José de Alencar, sobre a literatura:

"Palavra que inventa a multidão, inovação que adota o uso, caprichos que surgem no espírito do idiota inspirado".
Benção Paterna, 1872 - tem coisas que não mudam.




terça-feira, 22 de novembro de 2011

Com esse poema participei da Balada Literária de Marcelino Freire, São Paulo, 2011. Na Casa das Rosas, na Av Paulista.



Foi publicado no Portal de Cultura e entretenimento Garapa Paulista










O Inferno de Lilith

Na sala de visitas
comemoram
os belos, os fortes, os fartos, os naturalmente bons.

Mas aqui
Na epigênese imperfeita da minha alma,
Na rutilância fria do meu lastro
de correntes,
As garras dos sonhos impossíveis já afundam na minha pele.

Na minha pele
Nesta pele que crepita sob o sol do tempo
mas não larga, minha pele não me larga,
metamorfose incompleta

E eu vôo, inseto no deserto da ampulheta
e eu lacrimejo meu veneno, cobra involuntária.

Mas agora
Agora que ventilo o porão do que eu jamais serei,
arreio vencida, fustigada debaixo de açoites invisíveis
E ergo um brinde
Um brinde às máscaras
Às máscaras da comunhão e da benevolência.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Na Balada Literária 2011

Fui convidada pelo Portal de Cultura e Entretenimento Garapa Paulista e pela Balada Literária de Marcelino Freire para participar das leituras com outros escritores na Casa das Rosas, na Av Paulista, no sábado dia 19/11 `as 21:30h.

Vou recitar uma poesia minha chamada "O inferno de Lilith", que vai estar aqui no sábado `a noite.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

FILHO DE OGUM - Esse conto será parte do meu livro "O Boi sem asas".

Um conto em homenagem a Túlio Carella
Filho de Ogum. de Nina Ferraz – São Paulo, maio 2011
Ele era filho de Ogum, orixá dos metais. Senhor de instrumentos e armas para agricultura, caça e guerra. Quem planta poda. Quem procura caça. Olho no olho, dente por dente. Ele era espada forjada no malho, de dois gumes, amolada. Mas sabia que passar ferro no ferro é desafiar Ogum. E que só podia acabar como acabou.
Homem bonito. Tinha um olhar fervendo destes que lambuzam qualquer pessoa. Andava no pescoço um patuá que ganhou ainda criança. O pai amarrou uma figa junto, bem rente na goela do menino. No que ia crescendo, a mãe aumentava o cordão. Mandinga forte.
Menino de ouro, não se metia em confusão, era obediente, concentrado. Mas lá pela idade de 10, virou outra pessoa. Parou de se dar bem com meninos e meninas. Calou-se. Ficava sozinho, cara fechada, testa perdida, os pensamentos vazando no vento, sem ninguém poder recolher. A mãe se preocupava todo dia que amanhecia. Vai brincar, menino! E se a noite era de silêncio, ela tentava calar o peito. Mãe é mãe. Foge. Mas sente. E reza. Rezava baixinho: ô meu Deus!
E ele foi crescendo. Encarava com um olho que não fita, fugido, disfarçado, mas tinha o corpo fechado, bem talhado, fruta de morder. Um dia, ele se pegou olhando para os homens do cais. Tinha vontades. E rondava. Rondava. Rondava. Feito fera enjaulada. Mais parecia um leão, atirado na cova de Davi. Mas não tinha mais fé que a providência divina o alimentasse.
Ele era um homem e queria um homem. Coisa escrita, destino. Cumpriu sua sina numa noite de lua cheia e maré alta.
A lua no céu nítida que nem desenho de criança. As águas do mar espumando. O vento soprando. As ondas vinham correndo para os seus pés. Benzedeiras. E limpavam o que houvesse. E agitavam a areia. E deixavam a terra alva e pura. Ele viu um caminho de luz clara na pele do outro. No riso daquele desconhecido íntimo. Naquele olho que brilhou no seu, cúmplice. E o rapaz achou o grito da calada da noite. E descobriu sua morada.
Mas amor assim é condenado ao fogo que deve queimar calado. Tem que lutar desigual, de capa e espada contra dragão. Profecia que não vem dos deuses, mas das gentes. O vaticínio: será eternamente e repetidamente feito brasa de embaúba que não tem. Que queima ligeiro. Madeira que é mole, enverga, não dá lança. Nem viga. Árvore que tem copa rala, que não dá sombra. Assim o sujeito vai. Ardendo no sol quente, de sol a sol.
E assim assim, feito num conto de bruxas, foi morrendo a paz e a calmaria. E o silêncio foi virando grito. Berros daquele homem que tinha voz agora e falava nele. Brado que ele não queria ouvir.
Acuou-se num canto resignado. Mas o homem alvo brilhava em pé, na lua. E esbravejava o que ele nunca quis saber. Cresceu nele aquelas certezas que a gente tem, mas sabe que não é. Dessas certezas turvas que cospem fogo e comem raiva. E a fúria gritou: Sou filho de Ogum! Deus negro da guerra. Também sou filho de São Jorge! Sou filho de Orixá de punhal e lança. Forja suas armas, Ogum! Agora é guerra.
Foi desse jeito que acabou um amor que ninguém viu e que ninguém pode dizer.
O sangue escuro do homem branco escorreu na terra alva e a maré baixa não lavou nada.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O que UNE a Balada Literária, Caetano Veloso, Augusto de Campos e Wladimir Maiakovski?

Muitas coisas. Especialmente esse poema do escritor russo Maiakovski, que foi traduzido pelo poeta concretista brasileiro Augusto de Campos (homenageado da Balada Literária 2011) e que tem versos que foram usados em músicas do Caetano e do Roberto. Olha que lindo e singelo o poema:

O SOL DE MAIAKOVSKI
Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.

sábado, 12 de novembro de 2011

Poemínimos

Esses dois poeminhas ganharam 1o e 2o lugar -Melhores Haicais dentre os mais de 20 ótimos concorrentes da Oficina de Haicai do B-Eco de 17/10/2011 - e os dois são meus! Adorei! Os colegas que estavam na oficina que votaram. Obrigada a todos.

Calor da noite
Mormaço sem abraço
Saudade feito açoite (Nina)


A lua nova que era nova chora
No pescoço da noite
E agora? (Nina)